Os alimentos que ingerimos não só afetam a nossa saúde, como também o equilíbrio dos trilhões de microrganismos que habitam o nosso intestino. Um estudo publicado na revista Nature Microbiology revelou como as dietas vegana, vegetariana e omnívora moldam o microbiota intestinal e como isso influencia a saúde em geral. Esta análise oferece uma perspetiva única sobre a relação entre a escolha da dieta, a saúde intestinal e o risco de desenvolver doenças crônicas.
O impacto da dieta no microbioma intestinal
O microbioma intestinal é composto por um conjunto de microrganismos que desempenham um papel essencial na saúde humana. Este ecossistema de microrganismos pode ser significativamente modificado pelas escolhas alimentares. Por exemplo, as dietas à base de plantas não só reduzem o risco de doenças cardiovasculares, cancro e diabetes tipo 2, como também promovem a fermentação de polissacarídeos vegetais indigestos, que geram ácidos gordos de cadeia curta (AGCC) benéficos para a barreira intestinal e o sistema imunitário. Além disso, os polifenóis vegetais promovem o crescimento de bactérias benéficas que previnem a inflamação e reforçam a barreira intestinal.
Em contrapartida, as dietas ricas em alimentos de origem animal estão associadas a um aumento da fermentação de proteínas no intestino, o que pode levar a uma inflamação sistémica e local, bem como a uma redução da produção de AGCC. Um exemplo proeminente é a produção de trimetilamina (TMA) a partir de certas proteínas animais, que é depois convertida em óxido de trimetilamina (TMAO) no fígado. Este composto tem sido associado a doenças cardiovasculares e ao cancro colorrectal.
No entanto, a relação entre a dieta e o microbioma intestinal continua a ser complexa e mal compreendida devido à variabilidade dos dados e à falta de grandes estudos transnacionais. Atualmente, a investigação tende a generalizar as conclusões entre veganos e onívoros, ignorando diferenças significativas e possíveis enviesamentos.
Como foi realizado o estudo do microbioma intestinal?
O estudo intitulado «Gut microbiome signatures of vegan, vegetarian and omnivore diets and associated health outcomes across 21,561 individuals» utilizou dados da coorte ZOE PREDICT, composta por participantes do Reino Unido e dos EUA, que registaram os seus hábitos alimentares (onívoro, vegetariano ou vegan) e forneceram amostras fecais para análise genética. No total, foram analisados 656 veganos, 1.088 vegetarianos e 19.817 omnívoros.
Foram utilizados questionários de frequência alimentar (QFA) para recolher informações detalhadas sobre os hábitos alimentares dos participantes e foram comparados com uma ferramenta chamada MEDI, que analisa o ADN dos alimentos em amostras fecais. As amostras fecais foram processadas e analisadas para extração e sequenciação de ADN utilizando tecnologias avançadas. Posteriormente, o microbioma foi caracterizado taxonomicamente utilizando o MetaPhlAn, que identifica espécies microbianas conhecidas e desconhecidas. Esta abordagem forneceu uma visão pormenorizada da composição microbiana em relação aos hábitos alimentares dos participantes.
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Resultados relevantes
Os resultados mostram que as escolhas alimentares, tais como a inclusão ou exclusão de alimentos como carne, lacticínios, fruta e vegetais, têm um impacto direto no microbioma intestinal e cada dieta tem microrganismos intestinais caraterísticos. Por exemplo, os omnívoros apresentaram micróbios associados ao consumo de carne, como A. putredinis, B. wadsworthia e R. torques, que estão ligados à inflamação e a doenças como o cancro colorrectal. Em contrapartida, os veganos tinham micróbios benéficos, como Lachnospiraceae, Butyricicoccus e R. hominis, que ajudam a decompor as fibras e a produzir compostos saudáveis para o intestino.
As dietas ricas em lacticínios também apresentaram micróbios específicos, como o S. thermophilus e as bactérias do ácido lático, que estão associados a benefícios para a saúde. Além disso, os microbiomas dos veganos mostram macroorganismos naturalmente presentes em frutas, legumes e solos agrícolas, sugerindo uma ligação interessante entre os microbiomas do solo e os seres humanos, especialmente em dietas à base de plantas.
Para além do tipo de dieta, a quantidade de alimentos saudáveis à base de plantas consumidas é fundamental para a saúde intestinal. Os omnívoros, que tendem a consumir menos alimentos à base de plantas do que os vegetarianos ou veganos, poderiam melhorar o seu microbioma aumentando a diversidade de alimentos à base de plantas na sua dieta.
Implicações finais
Este estudo sublinha a importância da adoção de dietas mais ricas em alimentos de origem vegetal, não só pelos seus benefícios para a saúde pessoal, mas também pelo seu impacto positivo no ambiente e no microbiota. Para os profissionais de saúde e nutrição, estes resultados reforçam a necessidade de considerar o microbioma intestinal como um fator chave no planeamento da dieta e nas recomendações de saúde pública. À medida que a ciência continua a desvendar os mistérios do microbioma humano, uma coisa é certa: o que comemos não só alimenta o nosso corpo, mas também os trilhões de microrganismos que vivem no seu interior, afetando diretamente a nossa saúde.
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